sábado, 23 de janeiro de 2016

A Rosa

Alguns anos atrás eu passava sempre pela rua da dona Maria, uma florista que morava pertinho da minha casa. De tão boa que era me oferecia chá e biscoito sempre que me via passar por ali, o grande inconveniente era eu estar sempre regressando do trabalho duro, uma criança de apenas seis anos que vivia pra se alimentar. Não foi culpa da minha mãe o fato de me virar tão pequeno, eu já entendia que a vida tinha dessas. 
Dona Maria sempre puxava um banco pra sentar e me colocava pra acompanhar ela, quando isso acontecia eu comia tanto e tomava tanto chá que voltava pra casa explodindo, mas o que guardei até hoje foram os detalhes que se notavam em cada visita.
Sua casa, sempre cheia de cor, era vazia. Dona Maria, sempre com vivacidade, também era. Nós nos prendemos bastante um ao outro naquele tempo, até que uma vez eu perguntei.
- Por que a senhora ama essas flores? – Ela de pronto se virou e pegou uma rosa que tinha ao lado, vermelha, aberta, vibrante e em sua melhor forma.
- Você a vê? Ela é linda, não é? Ela foi plantada, cuidada e regada por um longo tempo. Ela brotou e cresceu como só ela poderia, mas ela corta. – Falou enquanto me mostrava seu dedo que possuía um pingo de sangue. – Isso não é culpa dela, mas aconteceu porque toda rosa tem espinho.
Passei toda minha infância e adolescência sem entender o que aquela amável senhora quis dizer ao explicar de forma tão enigmática a pergunta boba de uma criança. Pouco tempo depois disso ela morreu e em seu velório não se ouviu um choro, um riso, um pio, assim como a casa dela também vivia ser quando eu não a visitava.
Agora eu entendo, dona Maria era como uma rosa e vivia rodeada delas porque era a única coisa que pensava conhecer, pois eram como ela.
- Karolayn Pedroso

(Um breve relato do desconhecido)

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