domingo, 11 de setembro de 2016

O Pesadelo

Ao acordar me deparei com minha imagem em outro ser, não compreendia em um ínfimo o que acontecia ali. Me vi de olhos fechados e mãos tremendo, com um resfôlego em profusão e dentes tão trincados como se pudesse vê-los cair diante de mim. Aquela era eu, mas eu de fato não estava ali. Meu corpo habitava o mundo em suspensão e ali não existia ou se via nada, não se escutava nem o leve assopro de vento, mas escutava o próprio coração a trepidar. Das minhas costas surgiu um som, algo parecido ao resmungo rígido de um animal ferido que faria de tudo para sobreviver. Tentei me virar e ver do que se tratava, mas percebi em ascendente desespero que não podia mover um membro ou dizer um ai. Encontrava-me na confusão, imóvel e muda. Os segundos passaram como horas e os minutos pareciam estender-se cada vez mais, até que em um chiado brusco avistei aquele que fazia o som propagar-se no absoluto nada. Até hoje não entendo o que era, em sua visão disforme de corpo imundo, mãos enormes que se alargavam mais ainda ao juntar-se com suas garras pontudas, cheias de sangue. Seus olhos não existiam, e seu rosto parecia cortado em mil pedaços indistinguíveis, mas seus cascos o levavam diretamente onde estava sua presa, minha outra eu. Ao se encontrar com ela, se move diretamente às suas costas e sussurra algo em seu ouvido que a faz despertar-se do transe, mas em seus olhos só se via o ardente medo, seu corpo, assim como o meu, não se movia, mas sua consciência do momento estava estável, como quem vive por si só. A criatura subitamente se faz em gargalhadas, ao parar vira sua cabeça diretamente para onde eu me encontrava, enquanto, rapidamente, crava suas garras na nuca da minha imagem e dali puxa, com toda a força, os ossos da sua coluna. Em segundos a cena se vê em um banho de sangue e aquele ser puxa seus cabelos como quem mostra do que é capaz. Me encontro paralisada, em uma imagem provavelmente semelhante a que via naquele corpo, agora, moribundo e jogado ao chão. A criatura repete seus passos e ruídos, caminhando cada vez mais próxima de onde, agora, eu me encontrava. Quando chega à minha frente sinto o forte cheiro de morte que exalava e assim desvio os olhos para conter meu medo, no outro lado encontro outra imagem minha, com um olhar de pena e pavor. Sinto uma forte fisgada em minha nuca e o cenário se desfaz. Estou agora em minha cama.
- Karolayn Pedroso.

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