O Pesadelo
Ao
acordar me deparei com minha imagem em outro ser, não compreendia em um ínfimo
o que acontecia ali. Me vi de olhos fechados e mãos tremendo, com um resfôlego
em profusão e dentes tão trincados como se pudesse vê-los cair diante de mim.
Aquela era eu, mas eu de fato não estava ali. Meu corpo habitava o mundo em
suspensão e ali não existia ou se via nada, não se escutava nem o leve assopro
de vento, mas escutava o próprio coração a trepidar. Das minhas costas surgiu
um som, algo parecido ao resmungo rígido de um animal ferido que faria de tudo
para sobreviver. Tentei me virar e ver do que se tratava, mas percebi em
ascendente desespero que não podia mover um membro ou dizer um ai. Encontrava-me
na confusão, imóvel e muda. Os segundos passaram como horas e os minutos
pareciam estender-se cada vez mais, até que em um chiado brusco avistei aquele
que fazia o som propagar-se no absoluto nada. Até hoje não entendo o que era,
em sua visão disforme de corpo imundo, mãos enormes que se alargavam mais ainda
ao juntar-se com suas garras pontudas, cheias de sangue. Seus olhos não
existiam, e seu rosto parecia cortado em mil pedaços indistinguíveis, mas seus
cascos o levavam diretamente onde estava sua presa, minha outra eu. Ao se
encontrar com ela, se move diretamente às suas costas e sussurra algo em seu
ouvido que a faz despertar-se do transe, mas em seus olhos só se via o ardente
medo, seu corpo, assim como o meu, não se movia, mas sua consciência do momento
estava estável, como quem vive por si só. A criatura subitamente se faz em
gargalhadas, ao parar vira sua cabeça diretamente para onde eu me encontrava,
enquanto, rapidamente, crava suas garras na nuca da minha imagem e dali puxa,
com toda a força, os ossos da sua coluna. Em segundos a cena se vê em um banho
de sangue e aquele ser puxa seus cabelos como quem mostra do que é capaz. Me
encontro paralisada, em uma imagem provavelmente semelhante a que via naquele
corpo, agora, moribundo e jogado ao chão. A criatura repete seus passos e
ruídos, caminhando cada vez mais próxima de onde, agora, eu me encontrava. Quando
chega à minha frente sinto o forte cheiro de morte que exalava e assim desvio os
olhos para conter meu medo, no outro lado encontro outra imagem minha, com um
olhar de pena e pavor. Sinto uma forte fisgada em minha nuca e o cenário se
desfaz. Estou agora em minha cama.
- Karolayn Pedroso.
- Karolayn Pedroso.
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